Aplicação de preenchedores cutâneos
Preenchedores permanentes
Preenchedores são substâncias usadas para devolver volume a uma determinada área em que ocorreu perda, como em casos de envelhecimento ou lipoatrofia/ distrofia (alteração no organismo que leva ao depósito de gordura em algumas partes do corpo em detrimento de outra, como a causada pela terapia antirretroviral para o HIV)
Ao contrário dos preenchedores absorvíveis, como os preenchedores de ácido hialurônico, os preenchedores permanentes, com microesferas de polimetilmetacrilato, silicone e polímeros de hidrogel permanecem indefinidamente no tecido aplicado.
Por isso, é preciso ter muita cautela no seu uso, pois se injetado de maneira inadequada, seus eventos adversos podem ser de longa duração.
O uso desses preenchedores permanentes caiu muito nos últimos anos, pela preocupação com eventos adversos permanentes e o surgimento de muitos preenchedores temporários ou semipermanentes, com perfil de segurança e efeitos colaterais mais favoráveis.
Quando o ácido hialurônico é colocado de maneira indesejável no tecido, é possível usar hialuronidase para correção de um efeito cosmético de maneira mais rápida, ou aguardar sua degradação com o tempo. Ao contrário, com preenchedores permanentes, resultados cosméticos desagradáveis podem necessitar de intervenção cirúrgica e serem difíceis ou impossíveis de reverter.
Além disso, o uso de preenchedores temporários permite que o médico flexibilize seu uso conforme o paciente muda suas preferências, e também de acordo com as transformações que os tecidos vão sofrendo com o passar dos anos.
Por esse motivo, no meu consultório, eu apenas realizo preenchimento com preenchedores de ÁCIDO HIALURÔNICO. Não faço uso de preenchedores permanentes. Esse texto tem por objetivo apenas informar e orientar os pacientes sobre essa categoria de preenchedores.
Tipos de preenchedores permanentes:
PMMA
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Composto de microesferas de polimetacrilato (componente plástico) em gel. O veículo (gel) é absorvido em 3 dias, mas o PMMA permanece.
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As microesferas estimulam uma resposta inflamatória local, seguida da deposição de tecido de granulação por algumas semanas. Após um tempo, esse tecido conectivo se matura, com formação de novo colágeno em, cerca de 3 meses, dando o efeito preenchedor de volume.
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Injeções com esse produto não são indicadas para áreas de pele fina, como pálpebra inferior, pescoço e lábios, pois o implante pode ficar visível ou palpável.
Algumas complicações do seu uso incluem:
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nódulos pela deposição do produto superficialmente
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vermelhidão persistente
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aparecimento tardio de granulomas por se tratar de um corpo estranho.
SILICONE
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O uso de silicone líquido injetável é bem controverso devido ao risco de complicações a longo prazo. Nos EUA, por exemplo, é aprovado pelo FDA apenas para uso intraocular.
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Seu efeito volumizador ocorre de maneira similar ao PMMA.
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Até o momento não há estudos clínicos randomizamos avaliando sua utilização para correção cosmética, apesar de relatos de casos com bons resultados em pacientes com lipoatrofia relacionada ao HIV, quando utilizado silicone médico purificado com técnica de injeção adequada. Ainda sim, relatos de granulomas, nódulos desfigurantes, linfedema e migração do silicone tem levantado preocupação em relação ao seu uso. A maioria das complicações, no entanto, é relacionada ao uso inadequado do produto, grandes volumes injetados, ou uso de silicone industrial ou adulterado.
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Apenas silicone PURO, de uso MÉDICO pode ser usado como preenchedor.
Síndrome de embolismo pelo silicone:
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Resulta da embolização do silicone para os vasos pulmonares após injeção do produto para uso cosmético ou terapêutico.
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Os sintomas principais são hipoxemia, febre e rash com petéquias. Um terço dos pacientes pode ter alteração neurológica associada, que é associada com deterioração rápida do quadro clínico e alta mortalidade. A única conduta possível para esses casos é apenas de suporte para os sintomas.
Existem outras complicações possíveis do uso de preenchedores permanentes, que também podem ocorrer com preenchedores temporários, principalmente quando aplicados nas chamadas “Zonas de alto risco”, pelas suas características anatômicas que facilitam a ocorrência desses eventos:
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cegueira em caso de embolização da substância para dentro de um vaso, com migração do êmbolo até o ramo central da retina da artéria oftálmica, impedindo a perfusão do tecido da retina.
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comprometimento vascular por compressão ou obstrução de vasos como na glabela ou dobra nasolabial podem ocorrer, com branqueamento, descoloração violácea ou dor, e levando a necrose do tecido.
Atenção:
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Todos os produtos utilizados em procedimentos médicos e estéticos precisam ter registro na ANVISA. A Anvisa que irá avaliar os produtos quanto a sua segurança, eficácia e qualidade.
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Um dos produtos de PMMA autorizados pela ANVISA é o Biossimetric, fabricado pela MTC e está autorizado para aplicação para correção de lipodistrofia e correção de volume facial e corporal. Não é indicado para aumento de volume. Segundo a ANVISA, o produto deve ser aplicado por profissional médico treinado.
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Silicone industrial NÃO é aprovado para uso no corpo humano e é proibido pela ANVISA. Seu uso é apenas para limpeza de carros, peças de avião, impermeabilização de azulejos, vedação de vidros, etc. O silicone industrial, de aspecto oleoso, pode gerar complicações na hora ou após muitos anos, como deformações, dores, infecção, embolia pulmonar e morte. Seu uso ilegal é considerado crime contra saúde pública previsto em código penal. Se você aplicou silicone industrial, consulte um médico, mesmo que não tenha sintomas.
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Para saber se um produto é registrado e aprovado no Brasil, consulte o sistema de produtos regularizados da ANVISA.